sábado, 19 de março de 2016

Dois Messias de Israel?


"Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si;...Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados... Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca... E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão." extraído de Isaías 53


Há muito que os Cristãos têm usado o capítulo 53 de Isaías como ferramenta de evangelização dos judeus, uma vez que o texto descreve o sofrimento, morte e ressurreição do Messias com detalhes que se assemelham tremendamente com o que aconteceu com Jesus séculos depois. Em resposta, os judeus costumam afirmar contundentemente que tal texto não se refere ao Messias, mas sim à nação de Israel, pois o Servo do Senhor nos capítulos anteriores parece referir-se a Israel.

Um judeu certa vez me disse que tal passagem nunca havia sido interpretada pelos rabinos como referindo-se ao Messias. Bem, isso não é verdade. No passado, muitos rabinos identificaram essa passagem com o Messias, e é isso que quero deixar claro neste post. Para isso, vou repetir meu expediente do post "O pré-milenismo Judaico", fazendo uso do impressionante trabalho de Raphael Patai, "The Messiah texts", Wayne State University Press, 1988, que consiste de uma coletânea de textos messiânicos e escatológicos da literatura judaica dos últimos três mil anos, incluindo o Velho Testamento, Talmud, Targum, Midrash, Zohar, etc. Patai é um historiador e antropologista reconhecido internacionalmente, com doutorados pela Universidade Hebraica de Jerusalém e pela Universidade de Breslau, além de ter sido ordenado no Seminário Rabínico de Budapest.

Sobre Isaías 53, Patai é bem claro:

"Este grande poeta-profeta [Isaías] falou repetidamente sobre o 'Servo do Senhor', descrevendo a chamada, missão, sofrimento, morte e ressurreição deste misterioso indivíduo (Is 42:1-4; 49:1-6; 50:4-9; 52:13-53:12). Quanto à identidade desse 'Servo', não existe consenso entre os estudiosos até hoje. Entretanto, a Aggada, uma lenda Talmúdica, identifica-o, sem hesitação, com o Messias e entende a descrição do seu sofrimento como referindo-se ao Messias filho de Davi", Patai, pp. xxiii.

Sobre a morte do Messias, Patai continua,

"Uma profecia de Daniel...fala da morte do Messias sessenta e duas semanas (proféticas) após sua vinda e após o retorno e a reconstrução de Jerusalém (Dn 9:24-26).", pp. 166.

"Quando a morte do Messias se tornou um fato estabelecido nos tempos Talmúdicos, sentiu-se que isso era irreconciliável com a crença no Messias como Redentor que iria inaugurar o milênio de bênçãos da era Messiânica. O dilema foi resolvido separando-se a pessoa do Messias em duas: uma delas, chamada de Messias filho de José, cairia vítima de Gog e Magog. O outro, Messias filho de Davi, virá após ele (em algumas lendas ele o traz de volta à vida, o que psicologicamente aponta para a identidade dos dois).", pp. 166.

Note-se que existe certa confusão sobre se os dois Messias mencionados acima são duas pessoas distintas ou se um é a ressurreição do outro. Com relação a isso, o texto a seguir usa a ênfase que o Talmud dá na comparação entre Moisés e o Messias, de onde os sábios judeus concluem que o Messias virá duas vezes:

"Assim como Moisés morre antes de entrar na Terra Prometida, o Messias também precisa morrer antes de sua missão ser completada, mas ele também precisa viver para poder se assentar no trono de Davi em Jerusalém. Portanto, dois Messias precisam aparecer, um após o outro. O primeiro, Messias filho de José, é morto... por Armilus... Mas, então, ele volta à vida... O Messias filho de Davi aparece... e o ressuscita. Uma vez que nada mais é dito sobre ele [Messias filho de José] após sua ressurreição, o que se deve entender é que... ele, como filho de José, irá morrer no fim dos tempos, mas então irá voltar à vida como o Filho de Davi e completar a missão que ele começou na sua encarnação anterior.", Patai, pp. xxxiii.

O nome 'Messias filho de José' coincidentemente aplica-se a Jesus, filho de José. Na literatura rabínica, ele deve-se à profecia de sua vinda dada à sua ancestral, Raquel. "Quando, após anos de esterilidade, Raquel finalmente deu a luz a um filho, ela o chamou de José (Yosef), dizendo, 'Que o Senhor me acrescente [yosef] ainda outro filho' (Gn 30:24)." Como Raquel não teve outro filho, "um fragmento de Midrash explica: 'Logo, [sabemos] que o Ungido da guerra surgirá no futuro a partir de José...[E Raquel disse:] Deus tirou [asaf] meu opróbrio (ibid. v. 23) - porque foi profetizado a ela que o Messias viria dela'.", Patai, pp. 165.

Para nós, Cristãos dispensacionalistas, Yeshua ben Yosef (Jesus filho de José) é Mashiah ben Yosef e voltará como Mashiah ben David (Messias filho de Davi) para esmagar Armilus (o Anti Cristo) e inaugurar o Milênio de paz sobre Israel. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

"Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas? E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão.", Dn 12:8-10

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