sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Que amor é este?

Não, eu não li o livro do Dave Hunt com o título acima e, pelo que ouvi falar, não defendo a mesma tese que ele. Mas achei que o título era apropriado, pois eu gostaria de escrever sobre o amor de Deus dentro do contexto de Soteriologia (estudo da doutrina da salvação). Antes disso, vale fazer uma observação. Às vezes pode parecer perda de tempo ficar discutindo por causa de detalhes doutrinários complexos, sobre assuntos que não atraem a atenção da maioria das pessoas. Uma das razões para gastar tempo com isso é que a Palavra de Deus fala muito sobre estes assuntos e não acho certo simplesmente dizermos "Senhor, não quero ouvir o que tens a dizer sobre isso, pois não considero este um assunto importante".

Outra razão é que a sua posição sobre uma doutrina pode afetar sua conduta prática. Por exemplo, por que é importante saber se o novo nascimento vem antes ou depois da fé? Porque isso pode afetar a forma como você evangeliza. Muitas pessoas acham que porque Deus está no controle de tudo, não precisam falar de Cristo, pois Ele vai salvar os eleitos de qualquer jeito. Outros acham, corretamente, que Deus usa o método da pregação para alcançar Seu propósito de salvar o pecador, mas não precisamos nos esforçar para convencer os outros da verdade, pois a pessoa só vai crer depois que nascer de novo, e isso é obra de Deus. Então, se eu comunicar suscintamente o evangelho e orar, já fiz tudo que precisava e estava ao meu alcance. Isto é uma "meia verdade". Muitas pessoas são ganhas pela persistência de um evangelista em tentar convencê-los. Paulo tentava persuadir as pessoas a aceitarem o evangelho:

At 19:8 - "E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus."

Embora quem convença as pessoas seja o Espírito Santo (Jo 16:8), Ele também usa a argumentação Bíblica no processo. Como John MacArthur, que se diz um calvinista pleno, coloca:

"Quando você dá seu testemunho você não diz: 'Um dia eu estava andando e fui subitamente salvo. Num momento eu não sabia o que era um Cristão e agora eu sou um deles.' Não é tão simples. Tem que haver um ato da sua vontade para a salvação acontecer...Você foi salvo conscientemente, como um ato de sua vontade. Porém, a Bíblia diz que a salvação é um ato soberano de Deus, planejado antes da fundação do mundo (Ef 1:4). Ambos são verdade...Deus soberanamente motiva a sua vontade, mas ela tem que ser ativada. Ele sabe o que vai acontecer e irá cumprir Sua vontade..." (tradução minha)

Voltando ao assunto do título deste post, se Deus vai levar os crentes ao céu e lançar os incrédulos no inferno, como pode-se dizer que Ele ama a todos e que Jesus morreu por todos? Deus vai mandar alguém que Ele ama pro inferno?

Alguns calvinistas respondem que Deus só ama os eleitos e odeia os demais:

Sl 11:5 - "O Senhor prova o justo; porém ao ímpio e ao que ama a violência odeia a sua alma."

Vemos, então, que a ira de Deus está sobre os ímpios. Mas a coisa é um pouco mais complexa do que parece. Por exemplo, este texto não quer dizer que a ira de Deus não estava sobre mim também antes de eu me converter:

Ef 2:3 – "...éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais."

Antes de nos convertermos, éramos tão filhos da ira quanto os demais. Depois que nos convertemos, nos tornamos filhos da luz. Ninguém nasce filho da luz, nem mesmo os eleitos.

Jo 3:36 – "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece."

Entendo que a ira de Deus permanece sobre o que não crê, mas é removida daquele que crê. Note que esta ira não impede que Deus demonstre Seu amor aos pecadores. A ira está ligada ao fato de Deus ser justo e haver necessidade de pagamento por nossos pecados. Por outro lado, como Deus é amor (I Jo 4:16), misericordioso e tardio em irar-se (Jl 2:13), Ele enviou Seu Filho para pagar o preço (I Pe 2:24).

Outros calvinistas dizem que Deus ama todos, mas ama os eleitos de maneira especial. Deus manda bênçãos sobre justos e injustos, mas Jesus só morreu para pagar os pecados dos eleitos, e não de todas as pessoas. Isto é o que eles chamam de "expiação limitada". Segundo eles, os textos Bíblicos que dizem que Jesus morreu pelos pecados do mundo todo devem ser reinterpretados, pois a palavra "mundo" pode ter diferentes significados, dependendo do contexto. A idéia de um deus que quer salvar todos mas só consegue salvar alguns é inaceitável.

Jo 10:11 - "Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas."

Pelas ovelhas, não pelos bodes. Tudo bem, mas vamos checar isso mais a fundo. É fato que, na prática, o sangue de Jesus só paga pelos pecados dos que creem, até um arminiano aceita isto. Mas existe algo mais nessa história. Não vejo problema algum com o princípio de o sangue de Cristo tornar possível a salvação de qualquer homem. Este sangue deve ser oferecido a todos os homens, pois foi derramado por todos, e qualquer que quiser tem acesso a ele:

I Jo 2:2 – "E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo."

I Tm 2:4 – "Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade."

I Tm 2:6 – "O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo."

I Tm 4:10 – "Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis."

Deus é o salvador de todos os homens porque Ele oferece salvação como um presente a todos. Mas Ele é o salvador principalmente (ou efetivamente) dos fiéis porque eles aceitaram este presente. O sangue de Cristo é suficiente para todos, mas eficaz somente para os que creem. Neste sentido, posso concordar que Deus ama os crentes de uma maneira diferente, pois estes são Seus filhos adotivos (Ef 1:5). Deus os escolheu antes da fundação do mundo, como os calvinistas ensinam. Sendo assim, nenhum dos que Ele determinou que serão salvos irá se perder e, portanto, Deus continua soberano. Os outros se perdem por sua própria culpa, a despeito do chamado de Deus para a salvação. Mas Jesus veio também por eles.

Jo 1:11 – "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam."

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